Teatro entre elas

Imagine um grupo de senhoras que se encontram, religiosamente, duas vezes na semana, para vivências arte terapêuticas, experimentações de jogos teatrais, canto, ensaios, preparação corporal e dança. Imagine encontros nos quais a arte do teatro e a arte da vida se misturam, através de trocas ‘entre elas’. Esse grupo existe, vive na Casa do Beco,  Barragem Santa Lúcia – BH,  e tem nome: Coletivo O Teatro Entre Elas.

O Coletivo começou com um encontro da terceira idade promovido pelo CRA’s há cerca de 6 anos. A maioria das mulheres buscava uma atividade fora de casa, já que ser mãe e avó na comunidade não é uma tarefa muito tranquila. A princípio, o grupo contava com a participação de 26 mulheres. Com o tempo, o CRA’s não mais conseguia atendê-las e, devido a tantas dificuldades com a disponibilidade de espaço para os ensaios, o coletivo passou a se encontrar na Casa do Beco, local onde o professor Nil César promovia outras atividades.

O primeiro espetáculo produzido por elas - ‘Quando eu vim para um Belo Horizonte’ - estreou na Casa do Beco e percorreu outros espaços, inclusive a Sala Juvenal Dias no Palácio das artes, em 2015. Essa peça conta um pouco da história dessas mulheres, que têm em comum o fato de serem naturais do interior e chegarem ao Morro do Papagaio em busca de uma vida melhor. De certa forma, ouvir a história dessas senhoras é conhecer a história do morro, sua formação, características e personalidade.

Da formação inicial ficaram 6 mulheres, às quais somaram-se outras 8 participantes da oficina "O Afeto na Melhor Idade", realizada até o ano passado, pela Casa do Beco, em parceria com o Posto de Saúde Santa Lúcia. Elas garantem que essa história não vai acabar tão cedo. O teatro virou uma paixão, além do momento de cuidarem de si e uma das outras. O espetáculo artístico deixou de ser só um hobby a partir do momento em que elas perceberam um crescimento pessoal, um reconhecimento através do trabalho e tornaram-se uma inspiração para outras mulheres.

Agora, o Coletivo O Teatro Entre Elas segue com o segundo espetáculo que estreou em dezembro de 2016, também na Casa do Beco - ‘Mãe, raiz do Morro’ - em que narram as dificuldades da maternidade na comunidade onde vivem. Os encontros acontecem todas as segundas e sextas-feiras, de 14:00 às 16:30h, quando se dedicam aos ensaios e à manutenção dos espetáculos.

Integrantes: Adeguimar Maria, Adriana Borges, Cruzelina Lúcia, Dionisa Marques, Junia Conceição, Maria das Mercês, Maria do Carmo, Maria Geralda de Paula, Maurina Eugênia, Milta Maria, Rita Cardoso, Rosalina Cardoso, Suzete Izidoria e Rubia de Sena.

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Em roda, as mulheres erguem os braços para a frente e para cima, como se ofertassem algo. As mãos, que quase se tocam, têm diferentes tons de pele. Algumas são mais firmes, outras mais enrugadas ou curtidas de sol. Algumas exibem esmaltes nas unhas e anéis. Ao fundo, na parede sombreada, está o desenho de uma árvore com folhas grandes.

Ainda em roda, as mulheres formam uma fila, e cada uma toca as palmas das mãos nas costas da mulher à sua frente. Atrás, uma moça negra de rabo de cavalo toca em uma mulher de pele clara e cabelos escuros, que toca uma mulher de cabelos loiros e curtos. A mulher loira toca uma senhora negra de cabelos curtos e grisalhos, que toca as costas de uma mulher negra de óculos e colar que, por sua vez, pousa as mãos sobre o ombro de uma mulher vestida com uma camiseta preta, onde se lê a palavra Equipe. Na parede ao fundo, do lado da árvore, estão pintadas casinhas simples com janelas.

Quatro mulheres estão em volta de uma mesa iluminada, onde está a pequena escultura em cerâmica de uma mulher de cabelos compridos, com um terço nos braços. À frente, uma das mulheres ergue a palma da mão. Ao lado dela, a mulher de pele clara e cabelos escuros, agora com uma echarpe nos ombros, estende os braços, como se mostrasse a escultura. Atrás, a senhora de cabelos curtos e grisalhos une as mãos em oração, enquanto olha para a imagem. A quarta mulher está com os olhos fechados e as mãos cruzadas sobre o coração. Ela tem uma trança nos cabelos grisalhos, e usa blusa com listras pretas e brancas.

A mulher de pele clara e cabelos escuros ergue o braço direito para o lado, e com a mão esquerda, segura uma haste longa e fina, com uma lua crescente na extremidade. A lua plana e cinza é enfeitada com flores e fitas coloridas. A mulher usa casaco dourado e com rendas, sobre vestido branco estampada com flores vermelhas.

Mostradas do peito para cima e de perfil, a senhora de cabelos curtos e grisalhos e a mulher negra de óculos estão frente a frente, se olhando. A senhora, que também usa óculos, usa um fone de ouvido grande e preto e roupa com listras azuis, brancas e vermelhas. A mulher de óculos tem cabelos lisos e escuros, e usa um brinco com pedra verde. Ela veste um avental xadrez sobre blusa branca e estampada.

Belo Horizonte. Minas Gerais. Brasil. Fixo. Arte, culta e comunicação. Teatro. Coletivo. Mulheres negras. Mulheres periféricas.