O desafio de se localizar e se entender diante do feminino na contemporaneidade é trabalho de muitas mulheres. E é justamente isso que Itamara Ribeiro, artista plástica, reflete em seu fazer.
Numa costura entre o tempo atual e o tempo de sua ancestralidade, Itamara vivencia a própria arte como modo sutil de compreender a mulher que é e consequentemente proporciona o mesmo a outras mulheres.
O trabalho “A mulher e o lar” se inicia em 2016, quando Itamara deixou Florianópolis, o emprego e a urbanidade com marido e veio morar no meio rural de Minas Gerais, Lavras Novas, assumindo os cuidados com a casa e com o Filho, Francisco, hoje com 4 anos.
A experiência lhe trouxe tempo, tempo de ócio que a fez retomar a costura, herança da sua linhagem materna e a começar a produzir muitas coisas como almofadas de crochê.
“Meu Deus o que estou fazendo? Que lindo”.
Na contradição dos tempos: o tempo rápido x o tempo dilatado da reflexão, a mulher que trabalha e ocupa o social x a mulher que cuida e serve, a geração da mãe, da avó x o que ela própria tenta se tornar, direciona a artista aos manuais. Os muitos manuais que ensinam e ditam o que fazer, como ser e determinam o bonito e o ideal.
Itamara, então, começa com os manuais de bordado muito usados pela mãe que era costureira. Porém a artista se recusa a seguir as ordens do manual, interferindo nele e criando novas possibilidades. E o trabalho continua e se desdobra passando por tantos os outros manuais que normatizam a vida e o ser mulher nesse mundo.
O bordado, a linha costura os tempos das gerações das mulheres do dentro e do fora, redesenha as normas e cria caminhos alternativos de quem tem a missão de unir os muitos fazeres, os muitos papéis , os muitos espaços e recriar o feminino livre das convenções que limitam.
Itamara está sentada de costas, encaixada entre o balcão da cozinha e o armário branco da parede. Os joelhos estão junto ao peito, e as palmas das mãos tocam a parte de baixo do armário, assim como a cabeça, que está abaixada. Ela está de calças pretas e com as costas desnudas, o que evidencia o seu corpo magro e a linha vertical de sua coluna. Perto da pia, há um detergente e uma esponja laranja. A parede ao fundo é revestida com azulejos brancos. A cada três colunas de azulejos, há uma coluna com flores verde.
Itamara está sentada no pequeno espaço aberto de uma janela interna, segurando-se com as duas mãos na parede. Ela apóia os pés na travessa e as costas na parte móvel de vidro da janela, o que faz com que os joelhos quase toquem o peito. Itamara tem pele clara, cabelos escuros e cacheados, na altura dos ombros. Está descalça e veste calça preta e blusa cinza. À esquerda, ramos de jibóia com folhas em forma de coração pendem de um vaso pendurado na parede rosa.
Itamara se inclina para mexer em folhas de papel com desenhos coloridos, colocadas sobre uma cama. Na cama, também há um fichário aberto, um travesseiro com uma fronha estampada de azul e uma almofada multicolorida de crochê. Ao fundo, há uma persiana vertical aberta à frente de uma janela.
Sentada de lado sobre uma cadeira, com um dos pés no assento e um dos braços no encosto, Itamara sorri. Ela usa calça preta, blusa cinza estampada com florzinhas cor de rosa, colar de contas pretas e brincos grandes e redondos. Atrás. há uma grande mesa sobre cavaletes de madeira. Na parede do fundo, estão colados diversos desenhos, em folhas inteiras ou recortados em seu contorno. Alguns desenhos mostram plantas, outros exibem corpos ou partes de corpos.
De pé e com o tronco inclinado para a esquerda, Itamara toca uma parede com as palmas das mãos. A parede é revestida com azulejos cinza, que formam um padrão repetitivo, com linhas onduladas e elementos pequenos, com um formato que lembra um bujão de gás.
Belo Horizonte. Minas Gerais. Brasil. Itinerante. Artista. Arte, cultura e comunicação.
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